Dogma - Reditum

By Guzz69 - novembro 28, 2018


Existem várias bandas com o mesmo nome, mas este Dogma aqui é oriundo de Queluz, município do concelho que me acolheu e abrigou durante 14 anos da minha vida. Formados em 1996, gravam uma demo, lançam dois Ep's, sofrem com as inúmeras trocas na formação, e sucumbem em 2003. Confesso que esta primeira encarnação da banda passou longe do meu radar, porém posso afirmar que acompanhei de perto o gênero gótico invadir os terrenos do metal (ou seria o inverso?) na Europa, e em particular em Portugal, onde a fusão ganhou força na década de 90 com o surgimento de novas bandas (Eternal Mourning, Fallen Seasons, Inhuman, Heavenwood, etc), e outras migrando de sonoridade como o Moonspell. De qualquer forma, quatro ex-integrantes do Dogma se reúnem em 2014, e dão início a um interessante e valioso resgate de seu passado, que resulta na gravação e lançamento de Reditum em outubro de 2017. Tal como um bom vinho, são precisos anos de maturação para um melhor desfrute. E é justamente isso que se experimenta por aqui, um equilíbrio de "aromas e sabores" do que de melhor se produziu em termos de gothic metal lusitano. Temos é claro, a dualidade vocal, com o belo registro de Isabel Cristina a contrapor o tom grave e pontualmente agressivo de Gonçalo Nascimento. De notar que os vocalistas nem sempre atuam em dueto, deixando de lado o efeito "A Bela e a Fera", e optando por abordagens mais diversificadas. "A Rosa" é a exceção que confirma a regra. Em alguns momentos a voz de Isabel faz o papel secundário, introduzindo o tom melancólico, ou compondo a atmosfera etérea que funciona tão bem na música do Dogma. Nestes casos remete-nos um pouco ao trabalho de Liv Kristine, quando esta ainda integrava o Theatre of Tragedy, e diga-se de passagem, isso é um baita elogio. Já o Gonçalo, encanta mais quando espanta, ou seja, nas partes agressivas seu registro soa mais forte e impactante. O problema é que na maior parte do tempo seu registro 'limpo' é pouco cantado, por vezes sussurrado, por vezes declamado, poético sem dúvida, mas no geral sem grande variação de tom. Faz lembrar o Till Lindemann do Rammstein, aquele registro meio mecânico, porém aqui cantado na língua de Camões. Aliás, o tema "Esperma de Lava" reflete bem essa influência, embora a banda não utilize recursos eletrônicos, e tão pouco explore esse lado mais industrial dos alemães. Ainda assim é um dos temas mais fortes do álbum! Trata-se de uma música antiga, recuperada de seu segundo EP Memorial a Obsessão pela Dor (2002). "Corro pela Floresta" também foi recuperada, mas de seu primeiro EP Último Grito (2000). Em ambos os casos, os temas ganharam nova dimensão, não só pelos novos arranjos, como também pela ótima produção. Outros temas que se destacam são "Novo Senhor das Cinzas" e "Anjo Caído", sendo este último um interessante doom que vai ganhando andamento ao longo de seus 11 minutos de duração. O grupo ataca em várias frentes, nas mais agitadas remetem a Sisters of Mercy, enquanto nas mais intimistas temos algo de Myrkur. No geral o trabalho acaba sendo até bem variado dentro da proposta estabelecida, tendo como elo comum a tristeza e o caos. Liricamente, a banda explora bem o uso de metáforas, e deixa a cargo do ouvinte a sua própria interpretação. Reditum é um trabalho que cresce a cada nova audição, e demonstra em última instância, a convicção de quem regressou para deixar uma indelével marca nesta nova era do metal obscuro oriundo de Portugal.

DOGMA

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