Skull Fist 20/02/23 Jai Club

By Guzz69 - fevereiro 23, 2023

Skull Fist
A semana de Carnaval é sempre um martírio para quem curte música pesada, mas este ano foi bem diferente, graças às boas opções de concertos para os paulistanos amantes do gênero. Uma das boas surpresas foi organizada pela Caveira Velha Produções, cravando uma data na cidade de São Paulo para o regresso do grupo canadense SKULL FIST ao País. Curioso notar que eles excursionaram pelo México, juntamente com os suecos Enforcer, na segunda semana deste mês, mas continuaram separados por alguns países da América do Sul. O Enforcer toca em São Paulo no próximo sábado, dia 25 de Fevereiro no Hangar 110. Outra curiosidade é que na abertura do show do Enforcer estará o Thunderor, a nova banda do guitarrista Johnny Nesta (ex-Skull Fist), que já fez parte da formação do Enforcer ao vivo. A banda também conta com o baterista JJ Tartaglia qua faz parte do Skull Fist desde 2018. Coincidências à parte, quem lucrou foi o público citadino que ganhou dois grandes shows de heavy metal tradicional em um intervalo de 5 dias.

Sweet Danger
O Jai Club foi o local escolhido para a celebração metálica em plena segundona de carnaval, uma casa de shows modesta mas que se tornou recorrente para eventos de menor porte na zona sul de São Paulo. O evento estava agendado para começar às 17h30, e contava com 4 bandas nacionais na abertura. Desta vez não houve atrasos, e infelizmente acabei perdendo parte do show do SWEET DANGER, a única banda local do cartaz. Seu único álbum em longa duração Women, Leather and Hell foi lançado em 2016, e recentemente lançaram um split com a banda Biter de Indaiatuba. Consegui assistir as duas últimas músicas de seu curto set, uma ode ao metal tradicional dos anos 80, enquanto o público ainda adentrava e compunha o espaço. O vocalista Adriano Conde tem um registro arranhado típico de Udo Dirkschneider, mas em alguns momentos mostrou ter um alcance vocal a lá Rob Halford nos agudos. Uma boa promessa para ficar de olho dentro dessa linha de metal mais tradicional.

Axecuter
A banda seguinte foi a AXECUTER de Curitiba (PR), talvez a mais calejada entre as nacionais do alinhamento. O trio faz um speed thrash old school que originou os primeiros "pogos" entre os headbangers presentes. Apesar da falsa largada com Metal is Invincible (um problema com a guitarra obrigou o grupo recomeçar), seguiram inabalados destilando sua dedicação ao true metal em hinos como No Good, No Devil (Worship Metal!). Houve tempo para uma música inédita antes de fecharem com a balanceada Darkness in Bottles e a veloz Attack. Recentemente adquiri Anthology, o CD que reúne temas dos diversos EPs e Splits que o grupo lançou até 2014. Sem dúvida uma ótima forma de conhecer seu fundo de catálogo, especialmente para os novos fãs, que como eu só os conheceram com o segundo trabalho em longa duração Surrounded by Decay de 2020.

Murdeath
A próxima banda a subir ao palco foi a MURDEATH, também oriunda de Curitiba (PR), naquele que talvez tenha sido o seu derradeiro concerto. Sim, no final do ano passado o grupo anunciou um hiato por tempo indeterminado, e que teria efeito justamente após este show. Em uma década de carreira lançaram apenas 3 EPs para além do debut em longa duração Sob o Signo... de 2016, álbum que ganhou re-edição em vinil pela Kill Again Records em 2020. O núcleo duro composto pela dupla de guitarristas Jean Nightbreäker (também vocalista e membro fundador do grupo) e Mateus Midnightkillë (que acumula funções no Creatures e Icon of Sin), mandou ver algumas de suas principais composições tais como Inquisição, Guereiros do Anticristo, Quebre as Correntes, para além da já clássica faixa título do debut. Apesar das nítidas influências de Iron Maiden, sua música é invariavelmente rápida, suja e visceral, que reivindica o legado de ícones do speed/thrash nacional com letras em Português, tais como Dorsal Atlântica, Taurus e Vírus. 

Hallway Train
Coube ao grupo mineiro HELLWAY TRAIN encerrar o aquecimento tupiniquim para a grande atração da noite. O quarteto de Belo Horizonte mostrou ao público de São Paulo que vive um ótimo momento, e não escondeu a honra de estar participando do evento ao lado de grandes bandas nacionais. Para além de apresentar Power to Devour (uma nova composição), tocaram músicas do EP Lockdown Reborn (2021) e de Haunted Trip, o Split com a banda Hell Gun (PR) lançado no ano passado. Fizeram um set bem convincente, com uma ótima performance de todos os integrantes, e em especial do ótimo vocalista Márcio Brito. Apesar das similaridades com Rob Halford, no visual e na voz, o músico provou que tem personalidade para fugir da sombra do eterno deus do metal. 

Skull Fist
O grupo canadense SKULL FIST se tornou bem conhecido no Brasil após os shows de 2013 e 2019, e foi calorosamente recebido pelo público paulistano que por volta das 21h já lotava o recinto. Apesar de alguns problemas técnicos durante sua apresentação, destilaram temas de todos seus 4 álbuns de estúdio, com muita energia, profissionalismo e descontração. Privilegiando o repertório mais antigo, tocaram seu primeiro EP Heavier Than Metal (2010) na íntegra, ainda que 4 dos 5 temas tenham sido posteriormente regravados, dois no debut Head of the Pack (2011) e dois no mais recente álbum Paid in Full (2022). A banda teve uma performance muito boa, reforçada ao vivo pelo guitarrista Brett Overkill. Confesso que esperava ouvir mais temas do último álbum (onde soam como uma versão rejuvenescida dos alemães Scorpions), porém dele só tocaram Long Live The Fist, para além das regravações de BlackoutHeavier Than Metal, esta última proporcionando um dos momentos mais inusitados da noite. Nele o vocalista/guitarrista Zach Slaughter deixa seu instrumento de lado, e durante o solo faz um stage dive e é levado pelos fãs que o carregam sobre suas cabeças até o centro e de volta ao palco. Foi interessante notar o público em perfeita sintonia com a banda, cantando todos os refrões e algumas melodias mais marcantes do set list. Em palco eles tem uma presença curiosa, pois Zach é canhoto e Brett é destro, mesmo assim se ajuntavam sempre que possível, trocando de posições também com o comunicativo baixista Casey Guest. O batera JJ Tartaglia foi uma atração à parte, com seus pratos de ataque elevados acima do normal, o que não impediu sua ótima performance, e até um breve solo de bateria que introduziu Sign of the Warrior. A pedidos insistentes do público, voltaram duas vezes ao palco, primeiro para atender ao solicitado hino No False Metal, e depois no encore final com You Belong To Me, o único tema da noite retirado de seu terceiro álbum Way Of The Road (2018). Foi realmente um ótimo show, que em alguns momentos me fez recordar um certo quarteto de San Francisco ainda em início de carreira (alguns riffs e principalmente as cabeleiras em constante headbanging em palco), quando tocavam em recintos pequenos como o Jai Club, apresentando músicas de seu debut Kill'Em All. Não sei se chegarão um dia a tal patamar de sucesso, mas uma coisa é certa, o Skull Fist é uma benção para os fãs nostálgicos dos anos 80 (era pré-thrash metal), fiéis sucessores do legado NWOBHM, e um dos principais nomes da New Wave Of Tradicional Heavy Metal dos anos 2000. 

Zach Slaughter bangeando com a camisa da banda thrash mexicana Riot Disaster

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