Faz tempo que o Rap fincou pé no universo rock/metal mundial, e o Body Count foi um dos mais bem sucedidos em difundir essa mistura no início da década de 90. Quando lançaram o debut homônimo em 1992, não imaginavam a polêmica que o single "Cop Killer" causaria, pois se tornou emblemático em retratar a brutalidade da polícia norte-americana. Mais tarde o grupo cede a pressões externas, e retira o tema do álbum, substituindo por uma versão de "Freedom of Speech", original do próprio Ice-t, de seu álbum a solo de 1989. Nada aqui é por acaso, afinal, temos ou não, liberdade de expressão?
Nínguem melhor do que um rapper para representar a realidade das ruas, ainda mais quando se é negro de classe baixa nos EUA. Quando a voz é o instrumento, é preciso usá-la com astúcia e precisão, é sua melhor ferramenta, em dar o tom, libertar a raiva, equilibrar a mente, acalmar o coração. O Ice-t é um dos caras que melhor uso fez desse recurso em sua carreira, primeiro como artista solo de hip hop, e posteriormente com o Body Count no rock/metal. Isso sem falar de sua promissora carreira no cinema e televisão, onde até fez papel de detetive de polícia, alvo recorrente de suas letras.
No entanto, o regresso musical nos anos dois mil passou meio ao lado, e só após o lançamento do álbum "Manslaughter" em 2014, que chamaram a minha atenção, mostrando uma sonoridade renovada, melhor produzida e pesada. A crueza punk e hardcore de outrora deu lugar a uma sonoridade bem mais heavy metal. Na novidade deste ano, intitulada "Bloodlust", o grupo resurge ainda mais intenso e pesado, tanto líricamente quanto musicalmente ao longo das 10 novas canções, para além é claro, da ótima versão da dobradinha "Raining Blood / Postmortem", do Slayer!
Sim, o pessoal curte muito a intensidade do thrash, o que também pode ser comprovado em temas como "Civil War", "Walk With Me" e "Bloodlust". Veja abaixo os videos para os covers de Slayer e para o tema "No Lives Matter", ambos com intros narrados muito especiais, o primeiro sobre a paixão pelo metal do Slayer, e no segundo sobre racismo e o valor da vida.
A personalidade forte e a postura racional de Ice-T nos temas que aborda, são sempre muito incisivos, e a música acompanha toda essa dinâmica dramática, sendo a trilha perfeita para passar mensagens tão fortes e realistas. Ouça por exemplo o tema "Black Hoodie", que fala (mais uma vez) sobre a brutalidade da polícia norte-americana, em mais um caso real retratado pelo Body Count. Lembre-se que já se passaram 25 anos desde a polêmica de "Cop Killer", e pouco ou nada mudou!
No entanto, o que mais supreende em "Bloodlust", é a coesão instrumental, o peso das guitarras de Ernie C, a cozinha diâmica de baixo/bateria, e é claro toda a vitalidade de Ice-T, que se impoem no verbo, rappeando e contageando com a melhor arma que possui, sua palavra! Confira no video abaixo mais um destaque do álbum, o tema "This Is Why We Ride", onde Ice-T explica o significado da vingança, e o porquê da banda existir. Confira!
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