Recebi pouquíssimo material de bandas Brasileiras este ano, quer seja de músicos ou de seus representantes. E não estou falando apenas de lançamento físico, ou CD, afinal não passo um dia sem receber promos digitais da Europa e EUA. É justamente com base nesse material que desenvolvo as pautas do Metal Open Mind. Curiosamente no Brasil, é sempre esse enguiço da praticidade, da falta de interesse, do "cada um por si", e a cena ao invés de crescer, vai-se diluindo em guetos. Enfim, sinal claro de que vivemos um momento carente de grandes inovações artísticas no meio underground.
Mesmo assim, devo dizer que algumas pratas da casa não decepcionaram, como é o caso do Sepultura, Shadowside, Dark Avenger, Vandroya e Project46. Angra só no ano que vem mesmo, então, quem é que lançou algo realmente estrondoso e/ou inovador este ano?
Bom, mesmo com um leque limitado de opções, não tem como não destacar a ótima fase do Sepultura na era pós-Roots com o conceitual "Machine Messiah". O tema da robotização da sociedade é muito pertinente nos dias de hoje, e o grupo vai fundo explorando a idéia de que o ser humano está se transformando em máquina. O ciclo final da criação da "Máquina Divina".
A temática do álbum está explícita no video de "Phantom Self". Já a proposta sonora surpreende apenas do solo pra frente, quando o grupo explora um mix de elementos sinfônicos, melodias orientais, com tempero de música tradicional regionalista do Brasil, isso tudo num avassalador e intenso groove. O refrão é forte e funciona bem. Confira!
Instrumentalmente, temos um Sepultura super técnico, preciso, e destemido na exploração sonora das fronteiras de sua música extrema. Digna de destaque também está a prestação mostruosa de Eloy Casagrande, que assentou como uma luva na sonoridade moderna do grupo. Para além de igualar Igor Cavalera na intensidade da entrega, supera o ex-baterista na dinâmica e versatalidade.
Na parte vocal, Derek Green surpreende também, principalmente quando ele canta ao invés de berrar. Não que ele berre mal, mas esse registro "rasgado" é das coisas menos excitantes na sonoridade atual do grupo. O hiato maior entre álbuns de estúdio também ajudou na composição e produção do novo repertório, pois no geral o trampo de Andreas Kisser e Cia está realmente de alto nível.
Os destaques do álbum vão para as canções onde a diversidade vocal se fez mais presente, são elas: "Iceberg Dances", "Vandals Nest", "Cyber God" e a excelente faixa título "Machine Messiah". Seguindo firme nessa trilha evolutiva, não tardará ao Sepultura lançar sua derradeira obra prima, o disco apaziguador, que encerre o ciclo da banda de forma influente a nível global, e em unanimidade entre os fãs nacionais, muitos deles como eu, que acompanham o grupo mineiro há 3 décadas.
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