O grupo português MOONSPELL já é bem conhecido do público Brasileiro, e é sempre muito aguardado pelos fãs quando uma nova tour sulamericana é anunciada. A última passagem no país aconteceu há 5 anos quando promoviam o álbum 1755, lançado em 2017. Com 18 datas anunciadas para a América Latina entre os meses de Março e Abril, o grupo trouxe na bagagem um repertório comemorativo de seus 30 anos de carreira, para além da banda chilena Weight of Emptyness na abertura dos shows na Argentina, Uruguai e Brasil. Para a capital paulista ficou reservada a última data da tour, dia 14 de Abril no Carioca Club, e para a qual os promotores decidiram transformar em festival com a adição das bandas Beyond Creation do Canadá e Cynic dos EUA, que estavam prestes a iniciar tour conjunta pela América Latina. E desta forma surgiu o primeiro São Paulo Metal Fest, com os 4 grupos estrangeiros e ainda duas bandas nacionais anunciadas a posteriori. Os fãs de música extrema compraram a ideia e compareceram em bom número, porém nem todos saíram satisfeitos de lá. Sim, o cabeça de cartaz do evento se viu obrigado a encurtar o setlist devido a falta de profissionalismo de Paul Masvidal, que extrapolou em 20 minutos o tempo a que sua banda tinha direito em palco.
New Democracy |
Apesar de ter chegado cedo ao Carioca Club (Pinheiros), acabei perdendo o início do show do NEW DEMOCRACY devido a um problema com minha acompanhante cujo nome não estava na lista de convidados. Resolvida a questão, adentro ao recinto para encontrar o grupo de Varginha debitando seu potente death thrash metal em frente a um (ainda) pequeno público, porém muito interessado no que presenciava em palco. Relativamente desconhecidos, o quinteto mineiro já acumula um par de EPs e um par de álbuns em longa duração em cerca de uma década de carreira. Apesar do tempo limitado de palco, o grupo apresentou temas de seu mais recente trabalho de estúdio, The Plague (2022).
Rafael 'Naum' Lourenço, o vocalista e guitarrista do New Democracy |
Hatefulmurder |
Angélica 'Burns' Bastos, a vocalista do Hatefulmurder |
Nos 30 minutos a que tinham direito tocaram músicas de todos os seus 3 álbuns de estúdio, com especial destaque para o álbum Red Eyes do qual tocaram Silence Will Fall, My Battle, Creature of Sorrow e a excelente faixa título. Houve ainda tempo para apresentar Psywar, o novo single lançado este ano e cujo videoclipe já tem rotação no youtube. Para quem não conhece o som do Hatefulmurder, uma boa referência é o Arch Enemy da última década, ainda que Angélica esteja mais para Angela do que Alissa. Quem chegou cedo pôde conferir uma ótima performance do quarteto carioca.
Weight of Emptiness |
A primeira atração internacional da noite não precisou viajar muito para aterrar no Brasil, afinal o grupo WEIGHT OF EMPTINESS é oriundo de Santiago, capital e maior cidade de nosso vizinho 'não fronteiriço' na América do Sul, o Chile. Formados em 2015, o quinteto faz um interessante mix de sonoridades extremas que vão do doom melódico ao death metal progressivo, tendo já lançado três álbuns em longa duração. Confesso que era o único nome do cartaz que estava ouvindo pela primeira vez, mas o grupo foi tão convincente em sua prestação ao vivo, que me conquistou por completo.
Alejandro Ruiz, vocalista do Weight of Emptiness |
O vocalista Alejandro Ruiz foi uma atração à parte na apresentação extremamente técnica e coesa do grupo. Impressionou tanto na parte cênica quanto na parte musical, com seu visual imponente e seus variados registros vocais. Adentrou ao palco de manto negro e com o rosto coberto pelo capuz. Parecia um monge pronto a celebrar uma missa negra. Logo revela a face parcialmente pintada dos olhos para cima, parecendo um batman cabeludo e barbudo. O grupo apresentou temas de seus 3 álbuns, com ênfase na novidade Whitered Paradogma do qual tocaram músicas como Wolves e Defrosting. A sonoridade death/doom do Weight of Emptiness me fez lembrar momentos de bandas como Mourning Beloveth, My Dying Bride, e até mesmo Katatonia, porém mostrando que possui identidade própria ao conciliar o melhor dos dois mundos. Exploram elementos atmosféricos e progressivos, quer nas partes rápidas e agressivas (death) ou lentas e depressivas (doom), salientando o aspecto melódico e tornando seu repertório memorável e impactante ao vivo. O grupo terminou sua ótima apresentação agradecendo a reciprocidade e o carinho do público brasileiro.
Beyond Creation |
O grupo canadense BEYOND CREATION transformou-se rapidamente num dos grandes nomes do death metal técnico, inovando o gênero com influências de jazz e de música progressiva. Com apenas 3 álbuns lançados, The Aura (2011), Earthborn Evolution (2014) e Algorythm (2018), criaram uma identidade muito própria ao mesclar intrincados riffs de guitarra com melodiosas harmonias replicadas em ataque triplo de tappings. Sim, para além dos duetos proporcionados pelos guitarristas Simon Girard e Kévin Chartré, soma-se a eles os do exímio Hugo Doyon-Karout e seu baixo fretless. O grupo já havia se apresentado no Brasil em 2019, em tour conjunta com os norte-americanos Exhumed, sendo esta uma segunda oportunidade para o público paulista conferir o potencial da banda ao vivo.
Simon Girard, vocalista, guitarrista e líder do Beyond Creation |
O quarteto fez um show impecável tocando músicas de todos seus 3 álbuns, mas com ênfase no mais recente Algorythm, do qual tocaram In Adversity, Ethereal Kingdom e a faixa título, nesta sequência a meio do show. Para além de ótimo guitarrista, Simon Girard impressiona com seus variados registros vocais, ora rasgados (tipo black metal), ora urrados e cavernosos (tipo death metal). Embora o recurso de voz limpa seja pouco usado, não tem como vê-lo em palco e não lembrar de Mikael Åkerfeldt do Opeth. Confesso que o que mais me atrai no Beyond Creation é o instrumental, e o show só não foi nota 10 pela ausência do excelente baterista Philippe Boucher. Em seu lugar esteve o músico de sessão Michel Bélanger, que mesmo sendo um grande músico, transpareceu alguma falta de entrosamento. Notei que a execução dele não era perfeita, principalmente nas partes mais extremas e com bumbo duplo. Nada que um leigo pudesse notar, é claro, e perfeitamente comprensível no pontapé inicial de uma tour.
Cynic |
O grupo norte-americano CYNIC era uma das atrações mais aguardadas da noite, pois tocariam na íntegra o álbum Focus, seu primeiro álbum de estúdio lançado em 1993. A formação original do grupo contava com Paul Masvidal e Sean Reinert, que participaram das gravações de Human (1991), álbum clássico do Death, banda do finado Chuck Schuldiner. O grupo regressou no final dos anos 2000 com o álbum Traced in Air, mostrando maturidade e uma sonoridade mais melódica e progressiva, que abandonava os registros vocais agressivos quase por completo. Seis anos depois lançaram Kindly Bent to Free Us (2014), o último álbum de estúdio com o baixista Sean Malone e o baterista Sean Reinert (ambos viriam a falecer em 2020). Depois disso o grupo meio que virou um projeto solo de Paul Masvidal, que contando apenas com o baterista Matt Lynch como inegrante fixo, lançou Ascension Codes (2021) seu quarto e mais recente trabalho.
Paul Masvidal |
Fernando Ribeiro, o líder e a voz do Moonspell |
Fernando Ribeiro e Pedro Paixão aplaudem o público do Carioca Club |
Texto e Fotos por Gustavo Scafuro
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