quarta-feira, 29 de março de 2023

Ciemra - The Tread of Darkness (2023, Avantgarde Music)

 

CIEMRA é um quinteto de Black Metal formado em 2019, oriundo da cidade de Minsk, capital da Bielorússia. O grupo havia lançado o EP Agony Blasphemy no ano passado, e agora regressa com este The Tread of Darkness, o seu primeiro álbum em longa duração. Embora eu raramente resenhe bandas deste gênero, resolvi abrir uma exceção pois o trabalho me surpreendeu bastante, e até mereceu ser incluído entre os 20 melhores promos que recebi em Fevereiro. Mas afinal, o que o Ciemra faz de diferente para merecer a sua atenção? O disco tem 9 músicas, sendo a faixa de abertura a mais longa, com cerca de 7 minutos. Ciemra é o título da música em questão, e significa Darkness (Escuridão) em Bielorusso. Não por acaso dá nome ao grupo, e é uma das melhores do álbum. O tema começa com o estalar de uma tocha ardente, antecipando o dedilhado cristalino da guitarra acústica. Na sequência entra a secção rítmica a meio-tempo, seguida de poderosos acordes soltos em distorção por cima dos dedilhados (agora já amplificados), criando o clima para a entrada triunfal da vocalista Malvain, que com sua imponente e diabólica voz (seus urros pontuais são animais também), vocifera a vingança do rei da escuridão. Os riffs de guitarra vão ganhando peso, e antes da primeira mudança rítmica, surge um curto e melodioso solo de guitarra, que introduz um clima mais desordenado e caótico de acordes infernais, como que absortos em uma perseguição sanguinária. A busca pelas almas de seres inescrupulósos, que julgam e mentem no mundo carnal, tem continuidade com a bateria impondo velocidade, naquele que é o primeiro piscar de olhos ao território sônico mais clássico da segunda vaga do Black Metal (via Noruega), e traz em seu ápice os indispensáveis blast-beats. Antes disso porém, a música ganha peso e intensidade, ainda que mantendo a mesma progressão melódica, com alguns respiros pelo meio, e registros vocais mais limpos e graves (tipo Marilyn Manson). A parte final da música tem início em progressão inversa, ou seja, primeiro com o retorno do melodioso solo de guitarra (extendido), depois os acordes soltos, a guitarra acústica, e finalmente o estalar da tocha que vai se apagando com a vingança alcançada pela escuridão.

CIEMRA, Black Metal Bielorusso.
Outros destaques do álbum são Four Riders (em alusão aos cavaleiros do Apocalipse que ilustram a capa do álbum) e seu cativante refrão "White, Red, Black, Pale, Four Riders!", Vomiting Void (pelo meio com vocal limpo a lembrar Opeth), Serpent's que tal como a primeira faixa mescla bem as partes cadenciadas mais 'modernosas' e a velocidade desenfreada característica do Black Metal raiz, e finalmente a cadenciada War, com seus poderosos riffs e timbres perfeitos de guitarra. Vale lembrar que a Bielorússia fica localizada entre a Rússia e a Ucrânia, países cujo conflito bélico recente se estende na Eurasia, e poderá se transformar numa guerra de maiores proporções. Todo esse conceito lírico faz sentido em meio a tanto derramamento de sangue desnecessário. Já as restantes canções são mais medianas, e duas delas são cantadas em sua língua natal, apesar dos títulos em inglês: Call of the Ancestors e Where the Eyes Close. No geral o resultado é mais que positivo, e me faz ter esperança na evolução do gênero, muito embora tenha dúvidas se este tipo de trabalho, com produção mais cristalina, agradará os fãs mais radicais. Confira por você mesmo no player abaixo.
 

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