Conheci a voz e o talento de Johnny Gioeli com o projeto Hardline, grupo que formou com seu irmão Joey Gioeli no inicio dos anos 90. Fizeram parte da formação inicial o guitarrista Neal Schon (Journey), o baixista Todd Jensen (Doro), e o baterista Deen Castronovo, este último até então parceiro de Neal Schon em outro supergrupo, o Bad English. Quem diria que passados mais de 30 anos do lançamento do álbum de estreia Double Eclipse, poderíamos testemunhar essa celebração Hard Rock promovida pelo carismático Johnny Gioeli em sua estreia ao vivo em território nacional! O músico norte-americano é o único integrante original do Hardline, grupo que mantém até os dias de hoje, para além da parceria com o guitarrista japonês Jun Senoue no projeto Crush 40, e da parceria com o guitarrista alemão Axel Rudi Pell, com quem já gravou mais de uma dezena de álbuns nas últimas décadas. Ainda assim arranjou tempo para lançar um álbum em nome próprio, e outro em parceria com Deen Castronovo, ambos em 2018, para além de participações especiais em inúmeros projetos. Muito antes de tudo isso, tive o prazer de assisti-lo ao vivo ao lado de Axel Rudi Pell no festival espanhol Rock Machina em 2001. Naquela época o grupo alemão promovia o álbum The Masquerade Ball, e lembro-me de ter ficado surpreso ao ver Johnny Gioeli entrando em palco de cabelo curto (!), pois até então o vocalista ostentava uma senhora cabeleira abaixo da cintura! De lá para cá nem o visual, nem a potente voz mudaram, tão pouco sua energética performance. Para os dois shows no Brasil (a segunda data ocorreu no Hard Rock Café em Curitiba) o músico viajou sozinho e contou com uma banda de apoio formada por músicos brasileiros para interpretar músicas do Hardline e Axel Rudi Pell. Em São Paulo os ingressos esgotaram na véspera do show, e o público que lotou o House of Legends na Vila Madalena pode conferir 6 músicas do Double Eclipse e 3 músicas do The Masquerade Ball, não por acaso os álbuns clássicos de cada banda mencionados nesta introdução.
Nite Stinger |
A abertura do show em São Paulo contou com uma banda relativamente nova no cenário nacional, o Nite Stinger. O quinteto é formado por alguns nomes rodados da cena paulistana, tais como o baixista Bento Mello (que acumula funções como guitarrista no Sioux 66) e o baterista Ivan Busic (Platina, Taffo, Dr. Sin, etc). Não por acaso, o disco de estreia auto-intitulado foi gravado nos estúdio Busic Produções em São Paulo, e posteriormente lançado em formato físico pelo selo Animal Records no Brasil e pela Steelheart Records na Europa. O grupo pratica um hard rock inspirado em bandas clássicas do gênero glam metal dos anos 80, tais como Dokken, Ratt e Motley Crue. O grupo baseou seu setlist no álbum de estreia de 2021, mas apesar da boa performance dos músicos, só conseguiu empolgar o público presente já na reta final com uma versão requentada de Danger Zone (Kenny Loggins), hit da trilha sonora do filme Top Gun. O guitarrista Leonardo Gonçalves (Desert Dance, Chromeskull) me chamou atenção com alguns bons solos, e também por uma certa semelhança em palco com Warren DeMartini (Ratt). Apesar da morna apresentação, o show serviu perfeitamente como aperitivo para a atração principal da noite.
Johnny Gioeli em ação no House of Legends |
Carlos Chiaroni, dono da Animal Records, e um dos maiores promotores do Hard Rock no Brasil, subiu ao palco para apresentar de forma efusiva a estreia em solo nacional de Johnny Gioeli. Passavam poucos minutos das 22h, e o público que lotava o recinto por esta altura ensaiava um ainda tímido "Ooo, Johnny Johnny", coro de vozes que se intensificaria durante a hora e meia de show. A banda de apoio formada por músicos brasileiros introduz então Tear Down The Walls, a primeira do repertório de Axel Rudi Pell. Do instante em que o cantor norte-americano adentra ao palco, não se ouviu outra coisa senão uma performance de alto nível, energética e profissional. Sua voz continua imaculada no auge de seus 55 anos, o que pôde ser comprovado na dobradinha seguinte com Takin' Me Down e Dr. Love do repertório do Hardline. O carismático cantor não escondia a felicidade de estar no Brasil, e o público correspondia com muitos aplausos e gritos de apoio. Na sequência tivemos Voodoo Nights e Strong As A Rock, ambas do ARP, tendo a última arrancado a tradicional coreografia "punho erguido" da plateia. Antes da ótima Life's a Bitch (Hardline), o comunicativo Johnny exalta a necessidade de fugir da rotina e das vicissitudes da vida. Com o público na mão, retorna ao repertório do ARP com a dobradinha The Masquerade Ball e Carousel. É incrível como a voz de Gioeli se encaixa tão bem em ambas as propostas, quer seja na pegada hard'n'heavy europeu do Axel Rudi Pell ou na onda hard rock alto astral "made in USA" do Hardline. The Masquerade Ball foi aliás o único momento mais cadenciado do show (nenhuma balada entrou no setlist), naquele clima semi épico que nos remete a fase Dio no Black Sabbath. O tema Fever Dreams deu continuidade ao predominante repertório do Hardline, tema de abertura do quarto álbum de estúdio Danger Zone, e o único da noite à parte do debut. O momento alto do show veio com mais um dobradinha, Everything e o hit Hot Cherie, ambas do Double Eclipse. Importante frisar que durante todo o show a banda de apoio esteve sempre a altura nas interpretações, com destaque para o guitarrista Bruno Luiz (StormSons, Command6) e o eficiente baixista Bento Mello (Sioux 66, Nite Stinger) em jornada dupla nesta noite. Sim, nossos músicos são tão bons quanto os gringos, sem dúvida alguma. Rock the Nation foi o último tema apresentado do repertório ARP, uma composição apenas mediana e um tanto quanto clichê, e que poderia perfeitamente ter sido substituída por algum hit do Crush 40 (no qual empresta voz a trilhas de games), e cujo repertório foi ignorado nesta passagem por São Paulo, ainda que tenha sido uma participação num evento de anime/geek no Chile, a razão da inclusão destas duas datas extras no Brasil. Para encerrar a noite de forma hilária, o cantor se dirige ao público e diz: "Bom, agora é aquele momento em que deixamos o palco por alguns instantes, enquanto vocês ficam gritando para que nós voltemos. Então vamos cortar essa enrolação e ir direto ao assunto! E assim disparam Rhythm From A Red Car, o último destaque de Double Eclipse, o álbum de maior evidência de todo o setlist.
Gioeli e Bruno Luiz em destaque nesta foto montagem :) |
Foi sem dúvidas uma noite inesquecível e uma verdadeira celebração Hard Rock para o público que lotou o recinto, e finalmente pode ver de perto um ídolo que há mais de 30 anos vem mantendo acesa a chama do gênero através de seus múltiplos projetos musicais. Sim, Johnny Gioeli ainda é uma das melhores vozes do gênero, não à toa substituiu Jeff Scott Soto no Axel Rudi Pell, e de lá para cá nunca mais largou o osso. Foi muito bom revê-lo ao vivo, e melhor ainda testemunhar sua excelente performance ao lado de grandes músicos do cenário nacional. Morei 10 anos na Vila Madalena e nunca existiu um bar dedicado a shows internacionais por lá. Gostei da acústica desta nova casa de shows, o House of Legends, e espero voltar mais vezes para assistir outras grandes lendas do rock'n'roll, mesmo que tenha que investir em gasolina, pedágios, estacionamento, e hora e meia de estrada pra lá chegar.
Texto e Fotos por Gustavo Scafuro.
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