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Olof Wikstrand, o idealizador do Enforcer |
Sempre que ouço a palavra
Enforcer, associo imediatamente ao tema de abertura de
Blood Sports, um dos clássicos tardios da NWOBHM gravado pelo grupo inglês Avenger. Estávamos em 1984, e Olof Wikstrand sequer havia nascido, ele que viria a criar sozinho o embrião do projeto
ENFORCER vinte anos depois. Seria preciso entrevistar o multi-facetado vocalista Sueco para confirmar a inspiração do nome da banda, porém com quase 20 anos de carreira, dá para afirmar que este "executor" (enforcer) é a semente que vingou, ou melhor, a semente "vingadora" (avenger), representando em perfeita analogia, a memória de grupos menos afortunados da geração do "novo" heavy metal de 40 anos atrás.
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Enforcer em ação no Hangar110 |
Há pelo menos uns 15 anos que tenho ouvido falar no ressurgimento da NWOBHM (rebatizado de NWOTHM, onde o B de British é substituído pelo T de Traditional) através de uma nova geração de grupos, oriundos em sua maioria de países norte-americanos e europeus. Para citar alguns exemplos, destacaria o Cauldron do Canadá, o Haunt dos EUA, o Ranger da Finlândia, o Stallion da Alemanha, o Iron Curtain da Espanha, o Midnight Priest de Portugal, e é claro, o Enforcer da Suécia. No entanto, nunca imaginei que essa "nova onda" pudesse perdurar. Afinal, basta lembrar que o movimento original da Inglaterra teve início em meados dos anos 70, viveu seu auge em 83, mas não sobreviveu ao final daquela década devido ao fracasso comercial de muitos grupos, mudança no direcionamento musical de outros tantos, e por fim a inevitável segmentação do gênero. Simultaneamente, uma nova vaga de bandas fazendo um som cada vez mais rápido e agressivo (thrash metal em particular), colocaria o movimento que o inspirou em hibernação por quase duas décadas. Na Europa, a Suécia tem sido o País que mais tem produziu novos grupos inspirados na NWOBHM original. Nomes como Ambush, SteelWing, RAM, Screamer, Katana, Air Raid e Armory são bons exemplos desta cena revivalista dos anos 80. Com quase 20 anos de carreira, o ENFORCER tornou-se um de seus maiores protagonistas, e responsáveis também por inspirar novas gerações de bandas, inclusive por aqui no Brasil.
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Enforcer, mais uma vez executando seu repertório clássico no Brasil |
Esta foi a terceira passagem do quarteto pelo Brasil, após os shows de 2013 e 2016. Desta feita integrado na
Metal Supremacía Tour, giro que os levou novamente ao México (
Live By Fire II, seu segundo álbum ao vivo, foi gravado na Cidade do México em 2019), assim como a diversos países da América do Sul. Incialmente falou-se em 2 datas no Brasil, mas apenas um show em São Paulo foi realizado. O local escolhido foi o Hangar110 na zona central da capital, recinto para o qual me dirigi apressadamente no final da tarde de sábado, a fim de não perder o show de abertura. Afinal seria a estreia do grupo
THUNDEROR no País, atração confirmada a poucos dias do show, mas que prometia novidades. Na véspera do evento soube que um convidado brasileiro estaria em palco, emprestando suas 4 cordas ao trio Canadense.
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JJ Tartaglia, o vocalista/baterista do Thunderor |
O baterista JJ Tartaglia do Skull Fist (grupo Canadense que acompanhou o Enforcer em recente tour Mexicana, e que havia se apresentado em São Paulo alguns dias antes) conciliou algumas datas para testar ao vivo seu novo projeto Thunderor. Mesmo desfalcado de baixista, fez seu primeiro show no Uruguai três dias antes da apresentação no Brasil, tendo por lá contado com o baixista Albano Guillermo (Crystal Gates). Em São Paulo foi a vez de Lucas Chuluc emprestar suas seguras linhas de baixo ao "trovão internacional". Sim, quem conhece o rodado músico paulista, sabe que para além de vocalista/guitarrista na banda Álcool, ele também acumula funções no grupo Trovão como baixista.
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Lucas Chuluc, de trovoada paulista a trovão canadense |
O trio fez um set curto e morno, apresentando músicas do debut Fire it Up lançado no ano passado. O Canadá tem tradição em revelar ótimos bateristas vocalistas, Gil Moore (Triumph) e Dan Beehler (Exciter) são bons exemplos, no entanto JJ Tartaglia deixa muito a desejar na parte vocal, mesmo que sem comprometer sua eficiente performance na bateria. É como querer ser um Justin Hawkins (The Darkness) mas não passar de um Bruno Sutter (Massacration). Não é tarefa fácil tocar bateria e cantar ao mesmo tempo, mesmo assim o músico foi levando bem a parte instrumental, embora soando cansado a nível vocal. A apresentação esteve longe de ser empolgante ou minimamente convincente. Faltou consistência ao repertório, ou algo que pudesse tornar suas músicas mais atraentes ao vivo. Acho que a parte vocal é o calcanhar de Aquiles da banda, mas talvez uma segunda guitarra ou até mesmo um tecladista em palco ajudasse a criar um som mais robusto e excitante. Mesmo assim não posso negar que eles conseguiram arrancar aplausos de apoio do público presente, que até aquele momento preenchia o recinto de forma parcial.
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Johnny Nesta |
Em uma nota mais positiva, destaco o guitarrista Johnny Nesta (ex-Skull Fist), que com alguns solos de inspiração jazzística, roupas descoladas e coloridas, contrastou com o visual 'metálico' dos companheiros. Para quem nunca ouviu a música do Thunderor, dá pra dizer que eles fazem um som que tem tanto de NWOBHM como do Hard Rock melódico oitentista. Músicas mais rápidas como All Or Nothing e Thunderor soaram bem ao vivo, mas o repertório mais acessível foi predominante. Uma das apostas mais comerciais do grupo é Dangerous Times, single que contou com o disparo de teclas pré-gravadas a lembrar um mix de Supertramp e Bon Jovi em início de carreira. Ainda houve tempo para solos individuais de guitarra e bateria, ainda que curtos e dispensáveis. Acho que a melhor parte do show foi mesmo não terem tocado a horrível semi balada épica Cold Tears, a única do debut que ficou de fora do setlist. Os deuses do trovão agradecem!
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Olof Wikstrand arrepiando nos agudos |
Por volta das 21h30 a casa já estava bem mais composta, ainda que longe da capacidade total, quando ouve-se a versão do Judas Priest para o clássico Diamonds and Rust debitada pelas colunas do recinto, alertando aos presentes que o grande show da noite estava prestes a começar. Desde o primeiro instante em que o quarteto Sueco dispara com a veloz Destroyer, o frenesi de headbanging toma conta do palco e se espelha pelo público. É incrível como o som agora estava bem mais alto e super encorpado, comparado-se com o da banda de abertura. Arrisco dizer que estava inclusive melhor que o som do show do Skull Fist de 5 dias atrás, ainda que empatados na prestação sólida, energética e contagiante em palco. Hipnotizado com a seguinte Undying Evil, dou asas a imaginação e passo a ver um filme em minha mente, uma viagem mental e nostálgica ao início dos anos 80 com o pontapé inicial da carreira de bandas como Satan, Savage Grace e Metallica. Como pode passados 40 anos voltar a sentir a mesma adrenalina hipnótica de outrora?
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Jonathan Nordwall (guitarra) e Jonas Wikstrand (bateria) |
O setlist foi exatamente o mesmo que o grupo tem tocado desde o início desta tour, ou seja, super previsível porém muito bem equilibrado. Tocam 4 do álbum Diamonds (2010), 4 do Death by Fire (2013), 4 do From Beyond (2015), 2 do Zenith (2019) e 1 do ainda inédito Nostalgia (2023). Voltando ao show, fecham a primeira trinca com a faixa título From Beyond, arrancando um bonito coral de uma platéia já rendida aos encantos da banda. O último álbum de estúdio esteve pouco representado no setlist, provando que o experimentalismo não resultou tão bem quanto esperavam. Uma delas, Die for the Devil é servida na sequência, com sua pegada mais glam metal e igualmente nostálgica. Para além de excelente guitarrista, Olof também impressiona com seus dotes vocais, mantendo extensas notas agudas sem grande esforço. Depois votam ao speed metal com as ótimas Live for the Night e Death Rides This Night, levando o público a loucura. A cadenciada Zenith of the Black Sun serve para dar uma acalmada no ambiente, revelando uma faceta mais madura do grupo em termos de composição. Olof não perde nenhuma chance de se comunicar com o público, e para o efeito questiona se já conheciam uma nova canção de Nostalgia, álbum que será lançado no início de Maio. Trata-se do single Coming Alive que até ganhou videoclipe, tema que dá mostras de que o grupo está voltando com força à sonoridade que os popularizou, ou seja, um som mais direto, repleto de riffs e melodias dobradas de guitarras, tudo muito bem trabalhado e melódico, mas essencialmente veloz e nostálgico tal como seus primeiros trabalhos.
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Olof Wikstrand |
Depois da calorosa recepção ao novo tema, houve tempo para um solo do guitarrista Jonathan Nordwall, seguido da semi-balada Below the Slumber, um tema bem diferente dos demais, quase um híbrido de WASP com Metal Church. A trinca final foi composta por Mesmerized by Fire, Running in Menace e Take Me Out of This Nightmare, deixando o público presente completamente extasiado. O show poderia ter acabado neste momento que ninguém teria reclamado, afinal o quarteto havia dado o seu melhor, e o público já estava mais do que satisfeito. Claro que houve apupos para um encore, e quando o quarteto regressa ao palco empunhando latas de cerveja, Olof se volta ao público e questiona para ter certeza. Vocês querem ir pra casa ou preferem ouvir mais músicas? Claro, todo mundo já sabia que estavam reservados para o encore Katana e Midnight Vice, dois clássicos do álbum Diamonds para fechar a noite em grande. E assim, para que não restem dúvidas, arrematam o show com profissionalismo e maestria, para o delírio de seus fãs.
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Enforcer |
Apesar de não ter referido em qualquer momento desta resenha, é inegável a influência de Iron Maiden na música do grupo. O Enforcer utiliza-se de alguns elementos chave da fase inicial da carreira da donzela de ferro, sem se apropriar, mas personalizando-os à sua maneira. Resta dizer que a cozinha formada pelo excelente baterista Jonas Wikstrand e pelo novo baixista Garth Condit, foi de certa forma discreta porém extremamente eficaz. Esta foi a primeira vez que vi o Enforcer ao vivo, e para além de ter saído plenamente satisfeito, posso garantir que ainda voltarei a vê-los em palcos maiores e num futuro não muito distante. Longa vida ao principal "executor" da NWOTHM!
Texto e Fotos por Gustavo Scafuro
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