segunda-feira, 6 de maio de 2019

Sollar - Translucent [2019, Raising Legends Records]


Pode parecer coincidência, mas nos últimos anos tenho destacado por aqui grupos portugueses com vocais femininos, nomeadamente em meu top anual referente a lançamentos discográficos. Foi assim com o Earth Electric em 2017, e com o Sinistro no ano passado. Não que seja uma novidade ver mulheres a frente de bandas de metal pesado em Portugal, pois nos anos 90 houve um considerável número de bandas assim, com 'elas' a dividir as vozes com 'eles' na famigerada recriação de "a bela e a fera", em sonoridades do metal que flertavam com o gótico. O que mudou neste novo milênio, é o protagonismo que elas tem ganho em seus projetos, e sem deixar que isso afete a sua feminilidade. O ano de 2019 mal havia começado e já despontava este Translucent, a estreia discográfica do SOLLAR. Oriundos da região norte de Portugal, surgem em 2016 através da união de esforços de músicos experientes da cena, especialmente o guitarrista André Ribeiro (Oblique Rain, Sullen) e o baterista Eduardo Sinatra (The Godiva, Heavenwood). A formação fica completa com o baixista Diogo Vidinha, o guitarrista Vitor Braga, e a vocalista Mariana Azevedo. Aliás foi ela mesma quem entrou em contato, e gentilmente enviou o CD para este review. Naquele momento eu ainda desconhecia o projeto, mas ouvi a faixa de abertura "Birth" na página da Raising Legends no bandcamp, e fiquei realmente surpreso com a qualidade do prog metal desenvolvido pela banda. Faço questão de contar esse pormenor, pois foi o único tema que ouvi naquele momento, e só depois que recebi o CD é que fui ouvir o trabalho completo, ou seja, as restantes 9 faixas. Confesso que fiquei um pouco decepcionado após a primeira audição completa, pois logo na terceira faixa o grupo começa a transitar em territórios mais alternativos do metal, com riffs mais graves e dissonantes, e lá pela sétima faixa parecia que estava a ouvir uma banda totalmente diferente. Aliás, a faixa "The Image of Man" parece saída de um álbum do Meshuggah, com a participação especial do Miguel Inglês (Equaleft) no registo gutural.

SOLLAR, mais uma grande banda a surgir em Portugal.
Mesmo com essa estranha sensação de não ter compreendido o direcionamento musical do grupo, decidi dedicar mais algum tempo ao álbum, pois certamente o mesmo não pode ser encarado tão somente como prog metal. Tal como o Oceans of Slumber, e até mesmo o Vuur, o Sollar entra nesse filão de bandas que é difícil de catalogar, e este acaba por ser o seu maior trunfo, a ousadia de criar uma amálgama sonora que vai beber de muitas fontes, mas com o objetivo claro de criar algo novo na cena atual, e assim fazer diferença. Sim, tem muitos riffs aqui que nos remetem ao nu-metal, ao "metal moderno" devido ao timbre das guitarras, e até mesmo ao rock mais alternativo em alguns momentos do álbum. Os teclados também acabam por ter um papel importante em alguns temas, mesmo sem dar muito nas vistas. Em "Primal" e "Translucent" por exemplo, é até possível fazer um paralelo ao trabalho de Roddy Bottum no Faith No More. Os músicos são realmente muito bons, mas é a voz de Mariana que acaba unificando todo o trabalho. Ela foge completamente aos estereótipos habituais do heavy metal, e não só na aparência. Ainda assim, impõe suas próprias regras, por vezes com alguma sensualidade (na atmosférica "Naked" e na semi-acústica "Outburst" por exemplo), mas sempre com confiança e personalidade, tornando alguns refrões memoráveis e até mesmo cantaroláveis. Destaques? Depois de várias audições já começam a ser muitos! Para ser mais específico, gostei bastante da coesão rítmica da banda, da dinâmica imposta em alguns temas, e especialmente dos riffs matadores que populam o álbum. É de realçar também a veia progressiva, da já citada "Birth", que gostaria de ver mais presente em outros temas, tal como acontece nas passagens jazzy do tema "See". No geral trata-se de uma ótima estreia discográfica, mas que precisa ser digerida aos poucos, em doses homeopáticas, pois a proposta do grupo não é tão transparente quanto o título do álbum parece indicar. Para finalizar, resta realçar o excelente artwork do CD, que só peca mesmo por não apresentar qualquer fotografia de seus integrantes.




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