quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Earthless 03/11/18 Fabrique Club


Duas semanas após a edição de seu primeiro festival, a produtora Abraxas é responsável pela realização de mais um grande evento: A estreia dos norte-americanos Earthless no Brasil! No Rio de Janeiro e em São Paulo, o grupo de heavy psych oriundo de San Diego foi acompanhado pelo Mars Red Sky, que regressou ao Brasil pela terceira vez, e ainda pelo grupo nacional Psilocibina. Apesar de ainda não ser muito conhecidos por aqui, o Earthless lançou este ano seu primeiro álbum para a editora Nuclear Blast, um trabalho de transição com músicas mais curtas e cantadas, e esta nova diretriz poderá torná-los mais conhecidos. Vale lembrar que o grupo já havia lançado outros 3 trabalhos de estúdio, maioritariamente instrumentais, e com uma média de 20 minutos de duração por canção. Para quem perdeu a passagem do Earthless no Brasil, recomendo a performance ao vivo From The West, gravada em San Francisco no dia 1 de Março de 2018. O trabalho foi lançado em vinil pela Silver Current Records no dia 28 de Setembro de 2018, mas já esgotou. No entanto, a Nuclear Blast já tratou de relançar no passado dia 19 de Outubro no formato CD. O álbum conta com 7 canções e um cover de "Communication Breakdow" do Led Zeppelin.

PSILOCIBINA
Psilocibina é um alucinógeno de baixa toxicidade. É o principal componente psicoativo encontrado nos cogumelos do gênero Psilocybe. E é também o nome da mais nova aposta da editora Abraxas em termos de rock psicodélico instrumental made in Brazil. O grupo é formado pelo guitarrista Alex Sheeny, pelo baixista Rodrigo Toscano e pelo baterista Lucas Loureiro. Vieram do Rio Janeiro e apresentaram em São Paulo os sons instrumentais contidos em seu debut homônimo. O trio foi progressivamente cativando o público presente, com um rock rebuscado dos anos 70, mas com espaço para muita experimentação e algum improviso também, com o guitarrista Alex centralizando as atenções com seus ótimos e hipnotizantes solos hendrixianos. Trabalho facilitado, é claro, por uma cozinha baixo/bateria sólida e muito dinâmica. Dentre os temas apresentados destaco a energética "2069", a progressiva "Galho", e as mais curtas e diretas "Supernova 333" e "Trópicos". Fizeram um ótimo show, e foram bastante aplaudidos. Fico imaginando a experiência psicotrópica que seria ouvir Psilocibina sob efeito de psilocibina. Em modo "careta" aprovei e recomendo.

MARS RED SKY
A última passagem dos franceses Mars Red Sky no Brasil foi em 2015, com 5 datas nas regiões sudeste e sul do País. Desta feita conseguiram fazer um show no norte, mais precisamente em Palmas (Tocantins), dois dias antes da dobradinha com o Earthless aqui no sudeste. Este foi o meu primeiro contato com o som do grupo ao vivo, mas gostei bastante do que ouvi. O show começou com a intro "Alien Grounds" colocando aquele tom de mistério no ar, e abrindo espaço para a floydiana "Apex III", faixa título de seu último trabalho de estúdio em longa duração. Apesar da distorção hiper saturada, o trio consegue se impor musicalmente com seus andamentos lentos, temperados com muito fuzz, wah-wah's, e incursões vocais surpreendentemente melódicas. Se em "Apex III" o grupo se inspirou em "Astronomy Domine", em temas como "Under the Hood" temos uma interpretação vocal que nos remete à estrutura melódica do The Beatles. Esse registro mais doce e singular do guitarrista Julien Pras confere ao trio um poder hipnótico ainda mais eficaz. É incrível como apenas 3 pessoas em palco conseguem criar uma massa sonora tão intensa e inebriante. O tom vermelho das luzes, e o constante fumegar em palco criaram uma atmosfera densa e muito peculiar, vide o nome da banda, mas que dificultou bastante o trabalho dos fotógrafos. O baixista Jimmy Kinastse dirigiu-se ao público para agradecer, em mais de uma oportunidade, por todo o apoio e a calorosa recepção. De brinde, ainda tocaram um tema inédito e dedicaram outro aos amigos brasileiros (não os do facebook), e deixaram o palco sob forte ovação dos fãs, que em bom número gritaram "Mars Red Sky" repetidamente.

Isaiah Mitchell, voz e guitarra do Earthless
E finalmente chegou o momento mais esperado da noite, a estreia do Earthless em São Paulo! Com o trio em palco, notou-se logo a ausência do baixista Mike Eginton, que precisou retornar aos EUA por problemas de saúde. Em seu lugar esteve Rodrigo Toscano, baixista do Psilocibina, que trabalhou em dobro (e de forma imaculada) nesta noite. Com 17 anos de carreira, já dá para considerar o trio californiano como um grupo veterano, mesmo que só tenham lançado 4 álbuns de estúdio. Conhecidos por seu rock psicodélico instrumental, trouxeram ao Brasil um repertório renovado baseado no excelente "Black Heaven", álbum que traz alguns temas cantados pelo guitarrista Isaiah Mitchell. Embora "Gifted by the Wind", "End To End" e "Electric Flame" funcionem bem em estúdio, já ao vivo não dá para dizer o mesmo. O guitarrista não me pareceu muito confortável em conciliar as duas funções, pelo menos foi a impressão que me passou nesta noite. O fato é que, o cara é um excelente guitarrista, e sabe aliar técnica com muito feeling. Sem falar no aspecto criativo, e na enorme capacidade de improviso em temas que ultrapassam os 20 minutos de duração. Acho que foi durante "Flower Travelin' Man" que tive a estranha sensação que o cara nunca mais iria parar de solar! Coisa de louco, hipnotizante mesmo, por isso acho que para ele, cantar fica em segundo plano. No aspecto rítmico, o baterista Mario Rubalcaba também impressionou bastante, com grande precisão e dinamismo. Ele que foi skatista profissional no final da década de 80, trocou as rodas pelas baquetas, e se tornou um grande baterista. Agora com o novo contrato com a Nuclear Blast, a tendência será apostar em temas cantados nessa linha classic blues rock, e instrumentais mais curtos como a excelente "Black Heaven", outro ponto alto da noite. Por mim não há problema algum, desde que não percam a originalidade, e a capacidade de improviso, que tão bem sabem debitar ao vivo. Estranho mesmo foi deixar o Fabrique Club e se deparar com vestígios de uma intempérie relâmpago (árvores caídas, bairros sem luz, etc). Para as poucas centenas de pessoas que se deslocaram à sala paulistana, a descarga sônica foi igualmente forte e intensa, e felizmente nos poupou da tempestade física e impetuosa que arrebatou São Paulo.

EARTHLESS

Texto e Fotos: Gustavo Scafuro

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