O
CIRCA SURVIVE é uma daquelas bandas difíceis de catalogar, mas que ao vivo são capazes de unificar as mais diversas tribos. Do indie ao post-hardcore, do emo ao alternativo, tudo junto e misturado, melhor ainda, diluído e personalizado. Nínguem fica indiferente
à sua entrega,
à sua energia,
à sua paixão, até mesmo para um metalhead como eu. Sua música é tão intrigante quanto a arte que ilustra as capas de seus álbuns, belas e enigmáticas, sem nunca transparecer superficialidade. Pelo contrário, ela obriga o ouvinte mergulhar em sua profunda sensibilidade, e descobrir a cada música, uma nova perspectiva emocional.
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Anthony Green do Circa Survive |
A primeira vez que o grupo liderado por Anthony Green esteve no Brasil foi em 2015. Naquela ocasião vieram promover o álbum
Descensus, o quinto de sua discografia, e o meu primeiro contato com o som da banda. Foram tão bem recebidos pelo público brasileiro, que desta vez decidiram repetir a dose em promoção a
The Amulet, o seu último trabalho lançado no ano passado. Desta feita acrescentaram uma cidade extra no roteiro (Bar Ocidente - Porto Alegre), justamente o pontapé inicial desta nova tour em território nacional, no dia 9 de Setembro. Em São Paulo o show aconteceu no Fabrique Club, 6 dias depois, e contou com a abertura das bandas locais Wiseman e Bullet Bane.
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Arthur Mutanen a dar aquele help ao Bullet Bane |
Infelizmente não consegui chegar a tempo de assistir ao rock de inspiração grunge do
Wiseman, no entanto seu guitarrista/vocalista Thiagones me entregou em mãos o debut
Mind Blown, o qual já tive oportunidade de ouvir e curtir. Com certeza irei conferir sua proposta alternativa ao vivo numa próxima oportunidade. Já o
Bullet Bane, que havia feito a abertura nas 4 datas da primeira passagem do Circa Survive pelo Brasil, reiterou o porquê de serem tão elogiados por Anthony Green. Tiveram uma prestação segura, equilibrando momentos intimistas com outros pra lá de energéticos, como no caso de
Curimatá e
Gangorra, dois temas extraídos de seu mais recente trabalho
Continental, e que marca a nova fase do grupo com letras em português. De salientar também a ausência do vocalista original Victor Franciscon, recentemente desligado do grupo. Em seu lugar esteve Arthur Mutanen, em carácter provisório, porém cumprindo bem o seu papel. Outros destaques foram
Catálise e
Mutação, temas inéditos que saíram apenas na coletânea do selo Flecha Discos, mas que já contam com rodagem ao vivo e conhecimento do público, devido aos respectivos clipes oficiais.
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Bullet Bane |
Por esta altura, a sala rústica da Barra Funda já estava abarrotada, e a ansiedade crescia a cada momento em que os músicos, um a um, entravam em cena. Estrategicamente posicionado a direita do palco, consegui filmar o tema de abertura na íntegra. Registrar Anthony Green gritando "Vamos Dançar" em português logo no início de
Rites of Investiture não têm preço. Mas esse foi o mote da noite, fazer o público mexer o esqueleto ao som de melodias envolventes e um som que tem tanto de pulsante como de hipnótico. O vocalista Anthony Green centralizava as atenções, inquieto em palco, sempre puxando pelo público que não ficava indiferente ao repertório apresentado. Tocaram músicas de 5 de seus 6 álbuns, privilegiando é claro, a novidade
The Amulet para além do debut
Juturna. Foram 4 temas de cada ponto extremo de sua discografia, e pelo meio ainda rolou 3 de
Blue Sky Noise, o álbum mais bem sucedido de sua carreira até o momento.
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Circa Survive |
Conheci o Circa Survive quando do lançamento de
Descensus em 2014, álbum que me chamou a atenção pelas melodias envolventes e um instrumental que flerta com o rock progressivo. Talvez por isso tenha sentido falta de temas como a belíssima
Always Begin e a energética
Schema. As escolhas deste álbum recaíram sobre a ótima
Child of the Desert que beira o Hard Rock setentista, e a longa e hipnótica faixa título que encerrou o show já em encore. De qualquer forma, o repertório escolhido foi muito bem recebido pelo público, e no meu caso, serviu para descobrir músicas mais antigas que até então desconhecia. A fórmula da banda passa por um instrumental coeso e instigante, com mudanças de andamentos progressivos que criam climas incríveis, harmoniosos e envolventes, servindo de fundo para a performance arrebatadora de Anthony Green. Ele sim, encanta nas partes melancólicas e surpreende nos gritos mais estridentes. Eu arrisco dizer que eles são uma versão indie de um mix de bandas como U2+Muse+Jane's Addiction, porém mais experimentais. Talvez por isso o rótulo de post-rock cai-lhes tão bem. No geral fizeram um ótimo show, tanto na entrega em palco como na comunicação com o público. E para quem ficou com desejo por mais, preparem-se pois o Anthony Green regressará ao País em 2019, desta vez com o grupo Saosin e também apresentando músicas de seu mais recente trabalho a solo.
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Anthony Green |
CIRCA SURVIVE SETLIST
Rites of Investiture
The Difference Between Medicine and Poison Is in the Dose
Wish Resign
Tunnel Vision
Child of the Desert
Get Out
In Fear and Faith
The Great Golden Baby
Lustration
At Night It Gets Worse
Living Together
Act Appalled
Dyed in the Wool
I Felt Free
Descensus
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